O maior desejo de uma mãe que entra em uma maternidade para dar à luz é sair com seu bebê saudável nos braços algumas horas depois. Mas, algumas vezes, por motivos diversos, isso não é possível.
Um deles é a prematuridade, definida como o nascimento antes do tempo previsto e que, em algumas situações, exige que a criança permaneça internada em uma UTI neonatal durante dias ou até meses.
A campanha “Novembro Roxo”, de alcance internacional, busca sensibilizar a população sobre a importância do pré-natal feito de forma correta e da capacitação de profissionais, visando qualificar o modelo assistencial e diminuir as taxas de parto prematuro e mortalidade materno-infantil no país.
As quatro maternidades da Rede Fhemig (Odete Valadares e Hospital Júlia Kubitschek, em BH, Hospital Regional Antônio Dias, em Patos de Minas, e Hospital Regional João Penido, em Juiz de Fora), referências no atendimento à gestação de alto risco, participam anualmente da campanha, promovendo diversas ações para divulgar a causa.
As UTI’s neonatais dessas unidades contam com infraestrutura completa e equipes multidisciplinares especializadas, formadas por profissionais como médicos de diversas especialidades, enfermeiros, psicólogos, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, assistentes sociais e fonoaudiólogos.
A cada cem recém-nascidos, 11 são prematuros.
O bebê é considerado prematuro se o parto acontecer antes das 37 semanas completas de gestação.
A prematuridade é classificada da seguinte forma: pré-termo: nascido antes de 37 semanas; pré-termo tardio: entre 34 semanas e zero dia e 36 semanas a seis dias; pré-termo moderado: entre 32 semanas e zero dia a 33 semanas e seis dias; muito pré-termo: entre 28 semanas e zero dias a 31 semanas e seis dias; pré-termo extremo: menor que 28 semanas e zero dia.
No Brasil, em 2022, foram registrados 292.715 nascimentos prematuros, de acordo com dados preliminares do Painel de Monitoramento de Nascidos Vivos (DataSUS).
Isso representa cerca de 11% do número total de nascimentos no país.
No mesmo período, a Maternidade Odete Valadares (MOV), em Belo Horizonte, registrou 3.060 nascimentos; desses, 283 eram prematuros.
“Pequenas ações, grande impacto”
Este ano, o tema escolhido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para o Dia Mundial da Prematuridade (17/11) é: “Pequenas ações, grande impacto: contato pele a pele imediato para todos os bebês, em todos os lugares.”
Este vínculo precoce traz inúmeros benefícios para o bebê prematuro, tanto quando são pequeninos, quanto a longo prazo, para toda a vida. Os estudos têm mostrado que os prematuros extremos, os mais vulneráveis, são ainda mais beneficiados por esse contato.
O Método Canguru, cuidado humanizado de extrema importância adotado nas UTI’s Neonatais, é uma das formas mais eficazes de estabelecer esse contato.
A prática, na qual as equipes multiprofissionais da Fhemig são especializadas, consiste em colocar o bebê em contato com o corpo dos pais, em uma posição semelhante à que o canguru carrega seus filhotes.
“Um dos pilares dessa prática é o estímulo ao aleitamento materno, incentivando a presença constante da mãe junto ao recém-nascido e, dessa forma, à sucção no seio da mãe. O método ainda ajuda na temperatura corporal do prematuro, no ganho de peso e em uma maior interação com toda a família”, detalha a coordenadora da UTI neonatal da MOV, Ione Santos.
Casa da Gestante
Um momento difícil para as mães de prematuros é quando elas recebem alta e podem ir para casa – mas seu bebê ainda não.
Dessa forma, as unidades Casa da Gestante, presentes nas maternidades da Fhemig, constituíram-se como espaço de permanência para essas mulheres, amparadas por equipes que lhes oferecem acolhimento físico e emocional.
O local também é importante para mães vindas do interior e que não têm onde ficar.
As maternidades ainda oferecem apoio psicológico e de serviço social, responsável por atender às demandas das mães relacionadas ao transporte, estadia, contato com a cidade de origem, entre outras.
Prematuridade extrema, sentimentos extremos
A vendedora Carina Rodrigues, de 33 anos, desde que seu bebê Benício Antônio nasceu, vem vivendo uma “montanha-russa” de emoções, somada à rotina exaustiva de uma UTI Neonatal.
Há quatro meses, ela deu entrada na maternidade do Hospital Regional João Penido (HRJP), em Juiz de Fora, onde vive, com nove centímetros de dilatação e apenas 22 semanas de gestação.
O empenho e a experiência da equipe multiprofissional da maternidade permitiram que Carina conseguisse segurar a gestação por mais uma semana.
Benício veio ao mundo com 23 semanas, por meio de uma cesárea de emergência.
Apesar de todos os cuidados, o cenário não era bom.
“Os médicos deixaram claro que a chance de sobrevivência era pequena. Ele era tão prematuro que nasceu com as pálpebras coladas”, conta Carina.
Benício foi internado imediatamente na UTI neonatal da unidade, e, superando todas as expectativas, vem evoluindo bem, dia após dia, realizando sessões de fisioterapia e fonoaudiologia. Hoje, com quase quatro meses, já pesa pouco mais de três quilos.
Carina sabe que a luta não acabou e que intercorrências diversas podem ocorrer com Benício.
Exemplo foi uma parada cardíaca, há um mês. “ O ir e vir da UTI neonatal é muito difícil. Entramos pela porta da maternidade querendo sempre uma notícia boa, e nem sempre elas são. Têm dias que saio rindo, em outros saio chorando. É um sentimento de impotência”, desabafa Carina, que tem mais três filhos.
Apesar do medo e do cansaço, intrínsecos à vivência em uma UTI neonatal, Carina tem a certeza de que sairá da maternidade com Benício em seus braços.
“Ele é meu ‘milagrinho’. Aprendeu a sugar, está bonito, corado e forte. Ele lutou muito para viver e continua lutando. É um dia de cada vez”, diz, com orgulho e esperança.
Pequeno guerreiro
Após um aborto espontâneo com oito semanas, Jennifer Brandão, de 24 anos, conseguia levar sua tão desejada gestação adiante. Mas a experiência da perda gerou um medo contínuo de perder o bebê, o que a fazia ter vários picos de pressão alta. Sua gestação foi considerada de alto risco e a jovem foi encaminhada para o Hospital Júlia Kubitschek (HJK), a fim de ser acompanhada por uma equipe especializada.
Ao chegar à unidade, em fevereiro de 2022, Jennifer já estava com leves contrações e um pequeno sangramento.
Segundo ela, ao passar mal por causa de um dos medicamentos usados para amadurecer o pulmão do bebê, a bolsa estourou.
Noah Samuel acabou nascendo com 26 semanas e dois dias de gestação, também em uma cesárea de emergência. “Foi tudo muito rápido. Por mais incrível que possa parecer, esse foi o único momento da gestação em que não tive medo. Estava muito calma, foi algo sobrenatural”, afirma.
Noah foi encaminhado do bloco cirúrgico para a UTI neonatal da unidade, onde permaneceu por exatos sete meses e cinco dias.
“A rotina era pesada e havia um misto de sentimentos. Tinha medo de perdê-lo, medo das sequelas, mas sentia muita gratidão por cada dia de evolução. A cada etapa pela qual a gente passava, era muita felicidade”, relata Jennifer, que contou com uma boa rede de apoio durante a internação do garoto.
O momento da alta de Noah foi, segundo Jennifer, de pura emoção – não só para os pais e a família, mas também para a equipe do hospital.
“Fizemos uma oração e me veio um filme na cabeça, com tudo o que passamos. Lembrei que chegamos a perder a esperança, já que ele ficou extremamente grave”, relembra a mãe.
Noah saiu do hospital com suporte de oxigênio, devido a uma displasia bronquiopulmonar (doença pulmonar crônica típica de prematuros), mas após a sua retirada, não teve sequelas.
O bebê também teve de passar por uma cirurgia de retinopatia da prematuridade (distúrbio relacionado à vascularização inadequada da retina imatura). Hoje, com 1 ano e 9 meses, é uma criança ativa, tranquila e já teve alta de grande parte dos acompanhamentos.
Gratidão pela equipe
Moradora do município de Guarda-Mor, Layane Peixoto deu entrada no Hospital Regional Antônio Dias (HRAD), em Patos de Minas (referência para a macrorregião Noroeste), no dia 24/4/2021.
Com um quadro severo de hipoglicemia e hiperglicemia, foi internada com 16 semanas de gestação. Quando se estabilizava, voltava para casa, mas continuava a contar com o acompanhamento da equipe multidisciplinar do hospital.
No dia 21/8, devido às complicações causadas pela pressão arterial alta, Layane deu à luz o pequeno Marcos José Souza, na trigésima semana.
Após passar por uma crise convulsiva nas suas primeiras horas de vida, o quadro de seu filho se estabilizou e ele foi transferido para outra unidade, de onde recebeu alta em 12/10.
Para Layane, ser mãe de prematuro foi um grande desafio, mas ela destaca o cuidado recebido pela equipe do HRAD, que estava sempre à sua disposição para realizar exames recorrentes e garantir a assistência adequada, mesmo nos momentos críticos.
“Sempre estavam lá, caso eu precisasse de algo. Ficamos longe da família e dos amigos, mas esse acompanhamento que eu tive do começo ao fim foi essencial, ajudou bastante. Tive momentos de medo e insegurança, mas também apoio, carinho e amor. No final, só gratidão por todo cuidado que tiveram por mim e por meu filho”, agradece.
Permanência na UTI Neonatal
Mas afinal, por que o bebê prematuro muitas vezes precisa desse longo tempo internado na UTI?
O bebê imaturo deve receber condições de manter sua homeostase, que é a capacidade do corpo em manter suas funções de forma equilibrada.
Sendo assim, é necessária ajuda para que ele mantenha a temperatura corporal, níveis glicêmicos e de micronutrientes adequados, mantenha trocas gasosas pulmonares condizentes, condições hemodinâmicas satisfatórias, além da monitorização dos dados vitais que identifiquem rapidamente alterações em sua condição clínica.
“A prematuridade por si só não é uma doença, mas a imaturidade extrema dos tecidos e a dificuldade em manter uma homeostase, que aconteceria normalmente intra-útero, levam ao desenvolvimento de diversas patologias em múltiplos órgãos, sendo difícil saber se as doenças são concomitantes ou se há relação de causalidade entre elas”, explica o pediatra neonatalogista da UTI Neonatal do HJK, Bruno Damião.
Mais sobre a prematuridade
De acordo com a enfermeira coordenadora da maternidade do HRAD, Priscila Freire, a prematuridade traz uma série de complicações, como a dificuldade nos reflexos de sucção e deglutição, (que dificultam a amamentação e a nutrição adequada), problemas respiratórios, metabólicos, infecções sistêmicas, alterações neurológicas, hemorragia intracraniana, retinopatia, dentre outras patologias.
Quanto menor a idade gestacional, maior a probabilidade de ocorrência de patologias relacionadas à prematuridade.
Um pré-natal e atendimento hospitalar adequados, com profissionais capacitados, são fundamentais para prevenir um parto prematuro e, consequentemente, todas as suas possíveis complicações.
Segundo Ione Santos, da MOV, por meio do pré-natal é possível prevenir ou detectar problemas, de forma precoce, tanto maternos como fetais.
“Isso permite um desenvolvimento saudável do bebê e reduz os riscos para a gestante”, ressalta.
De acordo com a profissional, entre os motivos para a ocorrência da prematuridade estão a anemia, descolamento de placenta, diabetes gestacional, gestação gemelar, incompetência do colo uterino, infecção uterina, pré-eclâmpsia, rotura prematura da bolsa amniótica e vaginose bacteriana.
“Além desses fatores, doenças como a tuberculose e sífilis também podem ser responsáveis pelo parto prematuro”, completa.
Exames de rotina do pré-natal
Durante o pré-natal, vários exames são de extrema importância para se evitar o risco da prematuridade.
“Sorologias, glicemias, controles pressóricos, avaliações de dados vitais de mães e fetos permitem evitar intercorrências ou mesmo o direcionamento da gestante para outro nível de atenção”, cita Bruno Damião.
São indicadas pelo menos três ultrassonografias durante a gestação.
Em cada fase há um objetivo específico e é possível acompanhar o crescimento do bebê, sua posição no útero, a idade gestacional, identificar possíveis anomalias e prever se aquela gestação necessita de cuidados especiais.