O que parecia ser um quadro de dengue com uma evolução dentro do esperado tornou-se um grande susto para a massoterapeuta Viviane Gomes Miranda.
Após cinco dias com os sintomas clássicos da doença, um sangramento acendeu o sinal de alerta e a fez procurar uma unidade de pronto atendimento. No mesmo dia, já foi encaminhada para o Centro de Terapia Intensiva do Hospital Eduardo de Menezes (HEM), da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). Seu caso era tão grave que, por três vezes, chegou a apresentar um resultado de hemograma preocupante: o número de plaquetas estava em zero.
“Eu poderia ter uma hemorragia grave a qualquer momento. Fui transferida para o CTI do Eduardo de Menezes e lá pediram alguns exames mais específicos. Daí veio o primeiro resultado com a taxa de plaquetas zerada. Fiz a primeira transfusão, subiu um pouco, mas em outro exame, no dia seguinte, já veio zerada novamente. Fiz uma segunda transfusão e, novamente, o mesmo resultado. A equipe do CTI ficou bastante preocupada, recebi toda assistência. Pediram mais exames para verificar se eu tinha outras infecções além da dengue, pois o quadro não estava evoluindo bem. Só na terceira transfusão, as plaquetas começaram a subir”, relata a ex-paciente.
Plaquetas
O gerente do CTI do Hospital Eduardo de Menezes, Aguinaldo Bicalho Ervilha Júnior, explica os riscos.
“A plaqueta é um tipo de célula que, entre outras, ajuda na formação dos coágulos. Quando chega a níveis muito baixos, existe uma possibilidade maior de choque hemorrágico. O caso da Viviane chamou atenção por uma contagem extremamente baixa de plaquetas que, obviamente, a colocava em risco. Felizmente, ela saiu viva, sem nenhuma sequela”, explica.
O médico ressalta a importância da terapia intensiva na atual epidemia de dengue.
“Temos observado casos de doentes graves. O paciente que precisa de CTI é porque tem algum acometimento ou iminência de acometimento de um órgão vital. E o mais importante: as arboviroses também afetam mais gravemente quem já tem outros problemas, como cardiopatas, nefropatas, imunossuprimidos. Então, acaba entrando como uma comorbidade ou um gatilho para que a doença de base seja agravada”, esclarece Aguinaldo.
Viviane nunca havia tido dengue. Após seis dias de internação, sendo cinco deles no CTI, ela recebeu alta e pode reencontrar sua família e amigos.
Retorno ao hospital
Alguns dias após a alta, a ex-paciente voltou à unidade para agradecer à equipe que cuidou dela nesse momento tão delicado.
“Poder voltar aqui, de onde pensei que não sairia viva, e reencontrar os profissionais que cuidaram de mim, com muito carinho e dedicação, é algo inexplicável”, diz.
Viviane considera sua recuperação um milagre e, por isso, afirma ver a vida de uma forma diferente, com mais gratidão.
“Não precisamos de muito para viver. Hoje dou mais valor à simplicidade, pois estar viva já é algo extraordinário. Sou eternamente grata a este hospital”, revela.
Para ela, o acolhimento da equipe do CTI foi essencial na sua recuperação. ”Não foi só um atendimento de excelência, mas muito mais do que isso: recebi amor, carinho, cuidado. Todos estiveram ao meu lado, me apoiando, passando mensagens positivas, de incentivo. E isso foi algo que fez toda a diferença e vai muito além do trabalho deles”.
Referência
Referência estadual no atendimento às doenças infectocontagiosas, com expertise em crises epidêmicas, como covid-19 e febre amarela, o HEM é a unidade em Belo Horizonte que mais tem recebido pacientes com dengue encaminhados pelo município.
Foram abertos 20 leitos de enfermaria desde o início do ano. Hoje, a unidade contabiliza 104 leitos clínicos e dez leitos de terapia intensiva, sendo que 50% de sua ocupação total está destinada aos casos de arboviroses (dengue, zika e chikungunya).
Só em 2024, o hospital já recebeu mais de 740 casos prováveis de dengue – 70 deles internados em UTI.