João Paulo Sardinha
Fundação Cultural Cassiano Ricardo
O Museu Municipal de São José dos Campos prorrogou, até 31 de março de 2025, a exposição “Gütlich – entre mundos”, que homenageia o centenário do pintor holandês Johann Gütlich e os seus 70 anos de Brasil.
A exposição, iniciada em abril deste ano, ajuda o público a dimensionar a vida e a obra do artista em diferentes momentos de sua história, incluindo as três décadas em São José dos Campos, onde criou a Escola de Belas Artes.
O visitante tem a oportunidade de conhecer um conjunto de obras que dá conta de iluminar os diferentes mundos imaginários do artista. A obra de Gütlich é apresentada sob a ótica do afeto com que ele foi descobrindo a sua arte ao longo da vida.
São cinco salas a serem percorridas na exposição: Trópicos, Inverno, Personagens, Fase branca e Desenhos e guaches. Esses ambientes abordam a ideia de atmosferas emanadas dos grupos de obras, como se estes fossem mundos poéticos habitados pelo artista (confira abaixo os detalhes de cada sala).
Parte dos quadros do artista pertence ao acervo do Museu Municipal, responsável pelo trabalho de restauro das peças. Outras foram cedidas em comodato.
A exposição, sucesso de público ao longo de 2024, marca a nova fase do Museu Municipal, após a reforma geral no prédio, entregue à população em janeiro deste ano.
Vida
Nascido em Roterdã, em 29 de agosto de 1920, o pintor holandês completou 100 anos em 2020, durante no auge da pandemia de Covid-19, o que tornou silenciosa a comemoração do centenário.
Chegou ao Brasil em 1953, após a Segunda Guerra Mundial. Já era um artista maduro e foi convidado por um grupo de intelectuais brasileiros para expor no Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Johann Gütlich e Tarsila do Amaral
O renomado artista desembarcou em São José dos Campos em 1962. Convidado pela Prefeitura, criou e dirigiu a Escola de Belas Artes, que esteve em atividade entre 1962 e 1970.
A condição de habitar um país com uma cultura muito diferente da sua, impôs ao pintor o desafio de compreender a paisagem e o homem. No começo, as paisagens de inverno ainda o perseguiam. Aos poucos, novos lugares e personagens foram surgindo. A figura do cangaceiro foi marcante, a paisagem da caatinga e do cerrado também.
Foi por este meio que inicia uma série de buscas que principiam na substituição dos temas, até em 1969, quando envereda pelo caminho do expressionismo abstrato.
Expôs no Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro
Visitação
O Museu Municipal funciona de terça a sexta-feira, das 9h às 18h, e aos sábados, das 9h às 13h. O espaço oferece visitas guiadas à exposição mediante agendamento prévio, para grupos com até 35 participantes. As visitas duram em torno de 1 hora.
Para agendar uma visita entre em contato com o Museu Municipal pelo e-mail [email protected].
Dentro da programação anual de Artes Visuais, estão previstas outras exposições de curta duração, com destaque para artistas joseenses que produzem arte contemporânea.
Salas da exposição
Trópicos
Neste momento, o que se busca é apresentar a cor e a luz do Brasil como elementos incorporados no sonho pictórico de Gütlich. Espaço é um convite à imersão na pintura como uma entrega a um sonho fantástico. O artista vivia sonhando acordado e se encantava com cores e formas em todos os lugares.
Inverno
O último inverno da Segunda Guerra Mundial foi o mais rigoroso do século 20 e marcou profundamente a experiência de vida do jovem pintor. No entanto, uma cena de esperança surgiu em 1944 durante uma caminhada na região da Frísia, uma província do Norte da Holanda. Ouviu ao nascer do dia o som de um coral de meninas cantando uma ária de Bach… “Você está comigo”. Nesse momento, o que se propõe é um envolvimento nessa atmosfera, onde tudo parece um manto branco sobre a terra desolada, mas há algo que está prestes a romper o limite da dor e anunciar uma nova vida.
Personagens
O retrato foi sempre um desafio para Gütlich. Representar o ser humano era como compreender uma paisagem de sentimentos, de dores e alegrias, reflexões. Nunca se valeu de uma fotografia, que ele considerava um meio de expressão por si. Dessa forma, os modelos posavam para ele durante muitas sessões, pois precisava conhecer as pessoas e fazer aflorar o retrato, ou eram buscadas na imaginação, a exemplo da obra Dom Quixote. Nesse momento, a grande transição do mundo holandês ao brasileiro se deu com a substituição do camponês meditativo pelo cangaceiro, que tanto fascinou o pintor.
Fase branca
O último período de abstração, e ocorrido na década de 1990, ficou marcada por uma paleta com predomínio de brancos e cores de uma luz e vivacidade que só uma vida inteira de pintar com o coração poderiam engendrar. Esta imersão decorreu de um longo encanto pelos ideogramas e pinturas japoneses. Ele mesmo nomeava esse conjunto como sua fase branca.
Desenhos e guaches
Por esta seleção, pode-se ver como a ideia da pintura se afirmava no exercício do desenho. A busca de massa de luz e sobra e o forte modelado dos volumes correspondem à ideia do gesto do pincel, num mundo onde a linha passa a ser um valor abstrato.
Os guaches sempre foram presentes em toda a sua trajetória. São mais que ensaios, são pinturas com um timbre diferente do óleo, ele se encantava com a opacidade e o caráter aveludado da tinta. O uso das tintas com fortes impactos marca a formação e a tradição holandesa.
Ficha técnica
Curadoria, Arte e Educação: Fabio Sapede e Claudia Paranhos
Suporte e Montagem: Rafael Marotti
Fotografia: Mário Lúcio Sapucahy
Consultoria de edição e texto: George Rembrandt Gütlich
Projeto Gráfico: Patrícia Brandstatter
Design: Mário Lúcio Sapucahy e Patrícia Brandstatter
Serviço
Museu Municipal
Praça Afonso Pena, 29 – Centro
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