O dinheiro era curto na casa dos Souza. Francisca era mãe solteira com dois filhos para sustentar. Os dois empregos que ela tinha a deixavam exausta. A viagem de ônibus de ida e volta do trabalho era a única chance que ela tinha de sentar e relaxar por um curto período. Até que sua filha se juntou a um clube de futsal. Francisca, em um ato de incrível altruísmo, deu a Bia seu passe de ônibus, para que ela não chegasse ao treino cansada, e começou a caminhar para o trabalho. Eram 50 minutos de ida e 50 minutos de volta, seis dias por semana.
Bia fez esse grande sacrifício valer a pena. Quando mãe e filha tiveram que viajar no mesmo dia em agosto, elas foram juntas. Desta vez foi de avião e para outro estado, Santa Catarina. A jovem de 26 anos havia recebido sua primeira convocação para o Brasil, e Francisca e seu irmão Rafael não iriam perder isso por nada no mundo. Nem, como Bia, para sua descrença, descobriu ao correr para a quadra, vários outros parentes. Eles fizeram a Arena Ivo Sguissardi parecer um show pop da Bia. A queridinha da família fez um show inesquecível. A ponta do Torreblanca fez nutmegs, flicks, assistências e terminou como a principal atiradora do Torneio Internacional de Xanxere. A FIFA conversou com Bia para discutir sua ascensão notável, a vida no Torreblanca, jogar ao lado de Amandinha, heroísmo pelo Brasil e a crença de que vencerão a primeira Copa do Mundo Feminina de Futsal da FIFA nas Filipinas.
FIFA: Qual foi a sensação de assinar pelo Torreblanca em 2019?
Bia: Fiquei muito feliz. Foi um sonho realizado deixar meu país para tocar em outro país com outra cultura, outra língua. Foi também a vindicação de todo o trabalho duro que eu tinha feito no Brasil.
Como é jogar ao lado de Amandinha?
Não tem muito que eu possa falar sobre ela, né? Todo mundo a conhece, é um prazer. Aprendo muito com ela todos os dias. Estou muito feliz de ter uma jogadora como ela jogando ao meu lado.
Burela tem dominado o futsal espanhol, mas Torreblanca tem se recuperado. Como você compararia os dois times?
É difícil comparar. O Burela está na liga há muitos anos. É um clube consolidado, com títulos, triunfos. O melhor clube do mundo. O Torreblanca está passando por um processo. Este ano, ganhamos nosso primeiro título. Agora temos um projeto mais sólido, um elenco estabelecido. Os jogadores se conhecem melhor, temos um entrosamento melhor. Acho que o Burela, por estar junto há mais tempo, competindo com os mesmos jogadores, está um passo à frente. Acho que estamos no processo de tentar nos tornar um dos maiores e melhores clubes da Espanha.
Qual foi a sensação de ganhar a Copa de la Reina?
Foi uma sensação indescritível. Já faz cinco anos que estou no clube. Sempre tive o objetivo de ganhar um título aqui. Fazer isso ao lado da Ana [Luiza], Amandinha, foi muito gratificante para mim. Pelo torneio que todos fizeram, também fiquei muito feliz pelo elenco e pela conquista coletiva.
Dizem que Bia muda para o modo Pichichi. Você pode nos contar sobre isso?
(risos) Estou sempre lá no momento certo para marcar gols. É oportunismo, mas também muito trabalho duro. Em quase todas as competições que jogo, sou sempre o artilheiro ou um dos artilheiros. Alguém disse que eu estava no modo Pichichi e isso pegou. Meus companheiros de equipe brincam sobre isso, mas sem eles fazendo jogadas, corridas, criando espaços, não seria possível. Estou sempre muito feliz em marcar gols e ouvir que estou no modo Pichichi é bom de ouvir.
Como você se sentiu ao ouvir o anúncio da primeira Copa do Mundo Feminina de Futsal da FIFA?
Eu acho que é muito importante para o futsal feminino, para as meninas que trabalham e lutam por isso há anos, que a gente tenha a nossa primeira Copa do Mundo apoiada pela FIFA. Eu fui uma fonte de grande alegria. Acho que todas as meninas que estão jogando atualmente e que pararam de jogar mereciam isso. Fiquei muito feliz. Acho que é um marco para o esporte. Se Deus quiser, tudo vai dar certo para o Brasil.
Como foi receber sua primeira convocação para a seleção brasileira em julho?
Acho que foi resultado de todo o trabalho que eu estava fazendo. Eu estava muito feliz. Você nunca esquece sua primeira vez. Eu estava correndo por aí, contando para minha família e amigos, chorando. Eu estava muito feliz e muito grata a Deus por esta oportunidade de representar meu país.
Você tinha muita família em Xanxerê…
Eu ia de Xanxere de volta para Melilla. Eu não ia voltar para Curitiba, onde minha família mora, então combinei que iria com minha mãe e meu irmão. O dia da final era o aniversário da minha mãe. Era um sonho para mim jogar pelo Brasil na frente da minha mãe no aniversário dela. Eu pensei que seriam apenas minha mãe e meu irmão lá, mas quando entrei na quadra antes de jogarmos contra o Paraguai, vi um monte de gente gritando meu nome! Era minha família inteira. Uau, uau. Fiquei sem palavras. Fiquei mais do que feliz. Sou uma pessoa muito voltada para a família. Graças a Deus minha família sempre me apoiou, me encorajou, fez tudo o que podia para me ajudar a viver meu sonho. Vê-los lá foi uma sensação única, uma que eu nunca, jamais esquecerei.
Você foi excelente em seu primeiro torneio, fazendo grandes movimentos e terminando como o artilheiro. Quão satisfeito você ficou com suas próprias performances?
Primeiramente, representar a Seleção principal foi muito importante para mim. Significou tudo para mim. Fui lá com a mentalidade de aprender, de poder adquirir o máximo de conhecimento possível dos jogadores e treinadores. Eu também queria aproveitar o momento, ser feliz. Eu queria aproveitar ao máximo a oportunidade que me foi dada, e fiquei feliz com minhas performances. Fiquei muito feliz de ter minha família lá comigo, e de jogar ao lado de grandes jogadores. Foi tudo realmente memorável.
O que você acha de Portugal e Espanha?
São seleções com muita qualidade. Eles se reúnem muito e são grandes times. Acredito que eles são definitivamente candidatos a ganhar a Copa do Mundo.
Quão confiante você está de que o Brasil levantará o troféu?
Estou muito confiante. Na minha opinião, temos os melhores jogadoras.